Por Bruno Passos
São 23h30 e o Óscar 2024 terminou (esse ano foi mais cedo). A cerimônia não teve nenhum grande momento de destaque e nenhuma grande surpresa nos premiados. O apresentador Jimmy Kimmel foi, mais uma vez, uma “escolha segura” e é a sua quarta vez na tarefa. O monólogo inicial foi bem tranquilo e sem muitos espinhos, fora uma piadinha sem graça sobre o passado de drogas de Robert Downey Junior e outra desagradável sobre o filme Zona de Interesse (dizendo que seria uma comédia romântica na Alemanha). No final, teve um recadinho bacana para Donald Trump.
No fim das contas, a “distribuição” dos prêmios foi até bem democrática. Oppenheimer, grande vencedor da noite, levou 7 prêmios e Pobres Criaturas faturou 4, Zona de Interesse 2, e um Óscar para Rejeitados, Barbie, Ficção Americana e Anatomia de Uma Queda. A alegria da noite foi “O Maestro” sair de mãos abanando e, por outro lado, infelizmente, Assassino da Lua das Flores também não levou nada.
Interessante notar que Oppenheimer levou principais prêmios técnicos (montagem, trilha sonora, fotografia) e PobreS Criaturas arrebatou Figurino, Design de Produção e Maquiagem, o que comprova a natureza de “obra de arte” do filme.
As premiações de melhores atrizes e atores levaram ganhadoras e ganhadores de anos anteriores para apresentar cada um dos concorrentes desse ano. E deu o esperado, nos coadjuvantes, Da´Vine pelo filme “os Rejeitados” e Robert Downey Junior por “Oppenheimer”. Para ator coadjuvante, o meu voto seria para Ryan Gosling. O Seu Ken serviu muito mais ao filme e exigiu muito da performance. Para ator principal, Cillian Murphy, era mesmo o favorito.
A categoria mais difícil da noite era mesmo a de melhor atriz, qualquer uma poderia levar, mas a disputa estava mesmo entre Lily Gladstone e Emma Stone. Deu essa última, que leva o seu segundo Óscar, o primeiro foi por Lala Land. O discurso dela foi ótimo. Eu sempre acho muito simpático quando o ganhador agradece a todos os concorrentes, um por um.
O Óscar de animação foi para “O Menino e a Garça”, o último filme de Hayao Miyazaki, do estúdio Gimbli, a Disney japonesa. E essa premiação acabou sendo uma bela homenagem à carreira desse artista que já fez tantas maravilhas na animação.
Roteiro Original para “Anatomia de Uma Queda” e Roteiro Adaptado para “Ficção Americana”. Acho que este foi o meu prêmio preferido da noite, por se tratar de um filme menor, corajoso e muito inteligente. Cord Jefferson, o roteirista, mandou o recado na lata. “Em vez de fazer 1 filme de 50 milhões de dólares, vamos fazer 10 filmes de 5 milhões.”
Direção de Arte. Pobres Criaturas. Seria também o meu escolhido. Por mais que Barbie tenha dado vida ao mundo fantasioso da boneca, Pobres Criaturas cria um mundo bizarro e inovador para causar a estranheza e o tom de novidade que a própria protagonista vivencia.
Ok, John Cena peladão (fazendo referência a um protesto que ocorreu a muito tempo na cerimônia) fez uma cena bem divertida para entregar o prêmio de figurino, que foi para Pobres Criaturas.
Filme Internacional. Zona de interesse. Era de se esperar, já que era um filme também indicado na categoria principal. Esse também foi premiado como melhor som, atropelando o favorito Oppenheimer, mostrando que essa categoria não premia sons altos, barulhentos e sim inventivos e que favoreçam e ajudem a contar a história. Que foi o caso aqui. Zona de Interesse é tratado, com razão, como um filme de terror e o som desempenha esse papel, nos fazendo imaginar o horror que está acontecendo num campo de concentração ao lado e não é completamente mostrado, mas sugerido.
O prêmio de Efeitos Visuais teve um sabor especial. Foi para o Japão, para Godzila: Minus One. Foi uma vitória da criatividade, com um orçamento de “apenas” 15 milhões de reais, o filme desbancou os milionários Guardiões da Galáxia 3 e Missão Impossível, aproveitando cada centavo e fazendo a boa e velha magia do cinema.
As categorias de documentário normalmente trazem as produções com os temas mais relevantes. O de curta foi para “The Last Repair Shop” e longa para “20 dias em Mariupol”, que trata de uma equipe de jornalistas ucranianos presos em uma cidade sitiada, durante a invasão russa.
Curta metragem foi para o Hype de Wes Anderson para A Incrível História de Henry Sugar, mesmo com outros candidatos superiores na disputa.
O momento mais divertido foi realmente a execução da canção “I´m Just Ken”. Todos se levantaram, cantaram junto, dançaram e, de quebra, teve o Slash (!) na guitarra, acordando muita gente. Mas quem levou foi Billie Eilish (segundo Óscar da garota, o primeiro foi por “no Time To Die”, do filme James Bond: Sem Tempo para Morrer), dessa vez pela belíssima “What Was I Made For”, também de Barbie.
Para diretor, não teve para ninguém, chegou a vez de Cristopher Nolan. Ele, que já fez filmes melhores que Oppenheimer, recebe esse prêmio com aquele sentimento de “conjunto da obra”. Isso já aconteceu com o Scorsese, por exemplo, que ganhou por “Infiltrados”, não que seja um filme ruim, muito pelo contrário, mas que não é, nem de longe, o melhor da sua carreira.
Melhor Montagem é, quase sempre, um indicador para o prêmio de melhor filme e saiu para Oppenheimer, apontando que não teríamos surpresa na premiação principal da noite. Assim, depois de três horas e meia de cerimônia, Al Pacino chegou para fechar a noite e apresentar a estatueta de melhor filme, confirmando as apostas: Oppenheimer. E com propriedade, é uma obra grandiosa, relevante nas suas discussões, com atuações irretocáveis e tecnicamente perfeito.
E assim terminamos mais uma edição da maior premiação do cinema. Sem vexames, sem polêmicas, mas com muito filme bom homenageado e é para isso que estamos aqui. Abaixo a lista de todos os concorrentes e vencedores.
Melhor filme
· ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· ‘Ficção americana’
· ‘Anatomia de uma queda’
· ‘Barbie’
· ‘Os rejeitados’
· ‘Assassinos da Lua das Flores’
· ‘Maestro’
· ‘Vidas Passadas’
· ‘Pobres Criaturas’
· ‘Zona de interesse’
Melhor atriz
· Lily Gladstone – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Sandra Hüller – ‘Anatomia de uma queda’
· Carey Mulligan – ‘Maestro’
· Emma Stone – ‘Pobres criaturas’ (VENCEDORA)
· Annette Bening – ‘Nyad’
Melhor direção
· Yorgos Lanthimos – ‘Pobres criaturas’
· Jonathan Glazer – ‘Zona de interesse’
· Christopher Nolan – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· Martin Scorsese – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Justine Triet – ‘Anatomia de uma queda’
Melhor ator
· Bradley Cooper – ‘Maestro’
· Colman Domingo – ‘Rustin’
· Paul Giamatti – ‘Os rejeitados’
· Cillian Murphy – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· Jeffrey Wright – ‘Ficção americana’
Melhor canção original
· ‘It Never Went Away’, Jon Batiste – ‘American Symphony’
· ‘I’m Just Ken’, Mark Ronson e Andrew Wyatt – ‘Barbie’
· ‘What Was I Made For?’, Billie Eilish e Finneas – ‘Barbie’ (VENCEDORA)
· ‘The Fire Inside’, Diane Warren – ‘Flamin’ Hot’
· ‘Wahzhazhe (A Song For My People)’, Osage Tribal Singers – ‘Assassinos da Lua das Flores’
Melhor Trilha Sonora
· Laura Karpman – ‘Ficção americana’
· John Williams – ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’
· Robbie Robertson – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Ludwig Göransson – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· Jerskin Fendrix – ‘Pobres criaturas’
Melhor som
· ‘Resistência’
· ‘Maestro’
· ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
· ‘Oppenheimer’
· ‘Zona de interesse’ (VENCEDOR)
Melhor curta-metragem
· ‘The After’
· ‘Invincible’
· ‘Knight of Fortune’
· ‘Red, White and Blue’
· ‘The Wonderful Story of Henry Sugar’ (VENCEDOR)
Melhor fotografia
· Hoyte van Hoytema – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· Matthew Libatique – ‘Maestro’
· Rodrigo Prieto – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Robbie Ryan – ‘Pobres criaturas’
· Edward Lachman – ‘O Conde’
Melhor documentário
· ‘Bobi Wine: The People’s President
· ‘A memória infinita’
· ‘Four Daughters’
· ‘To Kill a Tiger’
· ’20 dias em Mariupol’ (VENCEDOR)
Melhor documentário em curta-metragem
· ‘The ABCs of Book Banning’
· ‘The Barber of Little Rock’
· ‘Island in Between’
· ‘The Last Repair Shop’ (VENCEDOR)
· ‘Nǎi Nai & Wài Pó’
Melhor montagem
· ‘Anatomia de uma queda’
· ‘Os rejeitados’
· ‘Assassinos da lua das flores’
· ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· ‘Pobres criaturas’
Melhores efeitos visuais
· ‘Resistência’
· ‘Godzilla Minus One’ (VENCEDOR)
· ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’
· ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
· ‘Napoleão’
Melhor ator coadjuvante
· Sterling K. Brown – ‘Ficção americana’
· Robert Downey Jr. – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
· Mark Ruffalo – ‘Pobres Criaturas’
· Robert De Niro – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Ryan Gosling – ‘Barbie’
Melhor filme internacional
· ‘A sala dos professores’ – Alemanha
· ‘Eu, capitão’ – Itália
· ‘Dias perfeitos’ – Japão
· ‘Sociedade da neve’ – Espanha
· ‘Zona de Interesse’ – Reino Unido (VENCEDOR)
Melhor figurino
· Jacqueline Durran – ‘Barbie’
· Jacqueline West – ‘Assassinos da Lua das Flores’
· Holly Waddington – ‘Pobres criaturas’ (VENCEDORA)
· Janty Yates e Dave Crossman – ‘Napoleão’
· Ellen Mirojnick – ‘Oppenheimer’
Melhor direção de arte
· ‘Barbie’
· ‘Assassinos da Lua das Flores’
· ‘Oppenheimer’
· ‘Pobres criaturas’ (VENCEDOR)
· ‘Napoleão’
Melhor maquiagem e cabelo
· ‘Golda’
· ‘Maestro’
· ‘Oppenheimer’
· ‘Pobres criaturas’ (VENCEDOR)
· ‘Sociedade da neve’
