Por Valdomiro Nascimento
https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/histrias-e-lembranas–valdomiro-nascimento/766027/1
Lembro até hoje de fatos da minha infância, na Década de 60, com muito carinho e ótimas recordações… Nasci na Fazenda Varjota, no Município de Abaré, Sertão da Bahia.


Duas vezes no ano, janeiro e setembro, meus pais Seu Valério e Dona Cotinha, recebiam os Padres e o Bispo Dom Jackson Berenquer Prado (meu Padrinho de Batismo), para celebrações, crismas, batizados e casamentos.
E os acontecimentos religiosos daquela época? Além de serem grandes encontros sociais, eram cheios de fé e esperança.


Na sexta-feira da Semana Santa, durante toda a noite, lá em casa rezavam até a madrugada, esperando o galo cantar, para a comemoração da ressurreição de Jesus Cristo. E os meninos como se comportavam? Até hoje tem um pé de baraúna, onde as galinhas dormiam. Jogávamos pequenas pedras para o galo acordar e cantar mais cedo. Estávamos esperando o momento de comermos bolo de puba, biscoitos, requeijão e todas as iguarias saborosas, guardadas para a ocasião.


Na Fazenda Jardim do São Lourenço, dos meus avós maternos, Cícera e Manoel Alexandre, tinha a Novena de Nossa Senhora da Saúde, com o final em 02 de fevereiro, quando era realizada uma linda Procissão, com a participação de muita gente.

Mas, não esqueci um fato importante: durante o período de seca, alguém roubava o pequeno Menino Jesus da Santa e fazia uma promessa, pedindo para chover. Assim que chovia a pequena imagem do menino era devolvido, com uma grande celebração religiosa. No meio da caatinga, o encontro de Nossa Senhora da Saúde e seu pequeno menino. Era lindo demais!


No mês de março, Dona Lourença, a Matriarca da Família Cipriano da Varjota, fazia a Novela de São José e no final também uma bela Procissão acontecia em volta da casa. Não esqueço de um fato por demais relevante: Mãeensa, como era carinhosamente chamada pelos netos, fazia umas velinhas com pavil fino de algodão e envolvido com cera de abelha mandaçaia e distribuía para todos. O cheiro doce e suave das velinhas, iluminando aquelas noites de beleza e muita fé, nunca sairão de minha memória. Sinto o cheiro até hoje!


E no mês de junho acontecia na Fazenda São Lourenço a famosa Reza de João Dodó Cipriano e sua esposa Maria Sancha (chamada de Banta). Na noite de São João, na grande final, tinha uma linda fogueira, onde assavam milho verde e também tinha o juramento de novos padrinhos e madrinhas, compadres e comadres. Depois a bandeira era sacudida e alguém pegava, como uma prenda de devoção e fé. Muitas recordações daquelas noites frias e magníficas da minha infância.


Na Fazenda Boqueirão a Reza de Luzia era também um grande acontecimento esperado durante o ano. Os Proprietários eram Luiz Alves de Carvalho (conhecido como Luiz da Várzea) e sua esposa Clara Emídia da Silva (a popular Pretinha). Dona Luzia e sua filha Ursulina moravam lá. Moradores da Região estavam presentes durante todo a dia e no final da tarde, acontecia e Procissão com muito louvor a Santa Luzia.
Lembro-me de uma espécie de refrigerante que era vendido, chamado gengimbirra. Como é bom guardar estas lembranças tão felizes!
O quadro original com a foto de Santa Luzia é hospedado até hoje na Fazenda Mocambo, Município de Curaçá, doado por Dona Luzia ao seu afilhado Fulgêncio de Almeida.

No Povoado de Icozeira, o casal Emília e Josué Castro marcaram época. Hospedavam também, nos meses de janeiro e setembro, os Padres e o Bispo Dom Jackson Berenguer Prado, para as celebrações religiosas.

Em dezembro, Madrinha Emília fazia um belíssimo Presépio de Natal, na Igreja de São José, o Padroeiro do Povoado de Icozeira. Parecia o verdadeiro nascimento do Menino Jesus. Quanta beleza, quanta fé, quanto amor, quanta saudade…
Meus agradecimentos a todos que ajudaram a ilustrar estas minhas memórias afetivas, em especial a Tia Isaura Maciel, a Terezinha Carvalho, Neta de Luiz Alves de Carvalho, a Ceci de Guilhermina e Isabel de Elísia de Fortunato, Netas de Dodô, as Professoras Léa Paiva e Vera Almeida, a minha querida amiga Genilda Castro e meu amado irmão Valdeny Nascimento.