Por Bruno Passos
Dia 10 de Março será a cerimônia do Óscar 2024 e, com isso, vamos ouvir aquela “ladainha” de sempre. “O Óscar não tem mais relevância, é um prêmio da indústria, não faz jus aos grandes filmes”. Tudo isso pode ser verdade, mas eu também tenho cá minha ladainha para defendê-lo: É um prêmio para o cinema, faz com o que as pessoas falem e acompanhem bons lançamentos. É uma premiação que leva à luz filmes que normalmente não chegariam ao conhecimento do grande público. Então, quem ganha ou quem perde não é o principal. Bom mesmo é celebrar, comentar e torcer para bons filmes.
Esse ano parece ser uma boa oportunidade para a academia que, desesperada por audiência, tem na sua lista de indicados produções que foram campeões de bilheteria. A boa arrecadação estava descolada dos “filmes de óscar” a um tempo (quem papava tudo nas bilheterias eram os Velozes e Furiosos, filmes da Marvel, continuações genéricas de filmes de ação). Mas agora, graças ao fenômeno BarbieHeimer, bons roteiros caíram nas graças do grande público e, agora sim, o Óscar tem potencial para ser acompanhando por mais gente. Veremos.
Então, para começar a falar dos indicados, falemos do favorito: “Oppenheimer” (disponível para compra e locação nas plataformas digitais) vem levando as principais premiações da temporada e parece já estar com uma mão na estatueta dourada (bem como seu diretor, Cristopher Nolan e seus atores Cillian Murphy e Robert Downey Junior) e faturou perto de 1 Bilhão de dólares. Com 13 indicações, é uma boa aposta para ser o grande vencedor da noite. Em número de indicações, está seguido de perto por “Pobres Criaturas” (disponível nos cinemas), de Yorgos Lanthimos, dos igualmente estranhos e criativos “A Favorita”, “O Lagosta” (ambos disponíveis na Netflix) e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (Hbo Max). Esse está virando carta marcada na cerimônia, diretor e roteirista de suas obras, é respiro de criatividade que Hollywood abraçou e esse ano chega com outra obra alegórica, estranha e irresistível. Aqui, Emma Stone é, mais uma vez, forte candidata a levar o prêmio de melhor atriz.
Na disputa de melhor filme, estão dois Internacionais: “Anatomia de Uma Queda” (cinemas), filmaço francês que parece ser um “filme de tribunal”, mas é bem mais do que isso, com um ritmo as vezes quase documental, somos levados a um drama que aborda cruamente sensacionalismo, culpa, maternidade e relacionamento. Do Reino Unido, “Zona de Interesse” (cinemas), que também concorre como filme internacional, retrata uma crua e cruel história do nazismo de uma perspectiva original, mostrando a “banalidade” e “normalidade” com as quais um crime hediondo era conduzido pelos seus agentes.
Na “ala” dos filmes menores e mais independentes, duas pérolas: “Os Rejeitados” e “Vidas Passadas” (ambos nos cinemas). O primeiro é mais um delicioso filme de Alexander Pyne, de “Sideways” que acompanha um professor rabugento que precisa passar o período de festas de fim de ano na escola junto com os alunos que não tiveram nenhuma programação familiar (daí o título). Claro que esse professor vai se conectar com algum desses alunos e vai evoluir como ser humano, já conhecemos essa história, mas aqui ela é contada com humor, intensidade e originalidade. Vale demais conferir mais uma performance de Paul Giamatti, que deveria levar a estatueta de melhor ator, não fosse a competição pesada com Cillian Murphy. Já a co produção Coreia do Sul/Estados Unidos, “Vidas Passadas” é um recorte delicado e sincero na vida de dois amigos de infância que se reencontram e terão que fazer escolhas na vida adulta. Um filme leve e ao mesmo tempo intenso e merece esse lugar nas indicações.
“Assassino da Lua das Flores” (disponível na Apple TV+) dispensa apresentações. É intenso, grandioso, relevante e tecnicamente perfeito. É o Scorsese de sempre e só isso já mereceria um óscar automático, o homem não erra. De Niro e Di Caprio dando o espetáculo de sempre e de quebra deve levar o Óscar de melhor atriz, pela revelação Lily Gladstone (se Emma Stone deixar).
“American Fiction” é uma ótima comédia afiada e um drama com muita sátira que trata de questões raciais dentro do mercado literário.
Deixei as polêmicas para o final. “Barbie” (HBO max) foi um fenômeno nos cinemas ano passado e está indicado a 8 prêmios, dentre eles melhor filme, figurino, canção, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, design de produção e, é claro, atriz… não, espera… atriz não! Mas como assim Margot Robie não foi indicada? Ela que apareceu nas maiores premiações da temporada, que fez uma excelente performance. Como assim Ryan Gosling foi indicada e ela não? Bem, o Óscar é uma grande votação e não podemos dizer que houve perseguição ou algo do tipo, até porque as cinco indicadas na categoria são excelentes (acredito que aqui Annet Benning, por Nyad, tenha “roubado” a vaga de Robie. Eu, particularmente, não gostei dessa indicação). Então não existiu uma preferência a Ryan Gosling, são batalhas diferentes. O que a gente pode mesmo questionar é a ausência de Greta Gerwig na categoria de direção. Essa não tem muita defesa.
Para finalizar a lista de indicados está o, na falta de um termo melhor, insuportável “Maestro” (disponível na Netflix). Confesso que tive dificuldades de finalizar essa obra, já que é um grande exercício de vaidade e desespero de Bradley Cooper em conseguir um Óscar. Logo ele que dirigiu e atuou no ótimo “Nasce uma estrela” (HBO max), aqui ele usa todas as “iscas de óscar” e acaba fazendo com que o filme seja sobre ele e o que consegue fazer e não sobre o maestro Leonard Bernstein. Todas as muletas e detalhes que, teoricamente, a academia gosta estão aqui. Uma transformação física (uma incomoda prótese de nariz), fotografia em preto e branco, história de superação, números musicais (desnecessários), etc. Foram sete indicações. Não que sejam injustas, mas o fato de o filme ter nascido com esse objetivo já tira um pouco do seu brilho.
Então está tudo aí. Filmes grandes, sucessos de crítica e público, algumas polêmicas, gente talentosa e a indústria cinematográfica em ebulição. Nós, cinéfilos, só temos a ganhar!