Por Irmão João
SEMANA SANTA
O cristianismo católico herdado dos portugueses ainda permeia a nossa cultura. Mesmo hoje, com um estado laico e com a presença atuante de outros credos, é inegável, por exemplo, o quanto a semana Santa marca o ritmo social. O calendário religioso, chamado de Ano Litúrgico, começa 4 semanas antes do Natal (data fixa), em 25 dezembro, e termina com o Domingo de Cristo Rei (data não fixa). O objetivo do Ano Litúrgico é celebrar ou fazer memória da pessoa de Jesus e dos fatos importantes da vida dele. Ele é organizado em torno das duas maiores celebrações cristãs: o Natal e a Páscoa. Ambas têm um tempo preparatório: o Advento, 4 domingos para o Natal, e a Quaresma, 40 dias para a Páscoa.
DOMINGO DE RAMOS
A última semana da Quaresma é a Semana Santa, que nos remete à derradeira semana de vida de Jesus. Dando cumprimento a profecias, Jesus entra na cidade de Jerusalém montado em um jumentinho, aclamado pela multidão que grita hosana ao filho de Davi, hosana ao Messias, agitando folhas de palmeiras e estendendo mantos no chão para ele passar. Era o máximo de provocação para as autoridades judaicas.
A igreja revive esse momento no chamado Domingo de Ramos, no qual os fiéis fazem uma pequena ou grande procissão, agitando palmas e cantando hosanas e louvores a Jesus Cristo. Celebra-se a Missa, com sobriedade litúrgica e é feita a primeira leitura da paixão e morte de Jesus.
TRÍDUO PASCAL
Quinta-feira Santa
Jesus, sabendo que iria morrer, reuniu-se com seus 12 discípulos mais próximos para celebrar a sua última ceia pascal, conforme o costume hebraico. Nessa ceia, tomou o pão e disse: isso é o meu corpo. Tomou o cálice com vinho e disse: esse é o cálice do sangue, sangue da Nova Aliança. Façam isso em minha memória. Era a Ceia Pascal da Nova Aliança, que passou a se chamar Eucaristia ou Missa.
Dentro desse ritual ficou registrado um gesto de humildade e de serviço, quando Jesus, o Mestre, lavou os pés dos discípulos e nos deu o seu novo andamento: “ amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. A Igreja na Quinta-feira Santa faz essa memória celebrando a Ceia do Senhor, com solenidade mas guardando a sobriedade. É feita a segunda leitura da paixão e morte de Jesus, o sacerdote lava os pés de 12 pessoas, enquanto os fiéis cantam amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Os altares são despojados das suas toalhas, a Eucaristia é retirada do altar e levada, em pequena procissão, para um recinto fora da nave da igreja, onde se fará a vigília.

Sexta-feira Santa
Após a Ceia Pascal, Jesus retirou-se para orar no Jardim das Oliveiras. Judas Iscariotes e os soldados do Sinédrio se dirigem ao local para prendê-Lo. A partir dessa noite começa a paixão de Jesus, uma série de torturas que culminarão com a morte dele na cruz, na sexta-feira, às 3 horas da tarde.
Nesse dia, a Igreja não celebra Missa, guarda silêncio, observa o jejum. Às 3 horas da tarde celebra a Paixão do Senhor, uma cerimônia bastante sóbria. Começa com todos de joelhos, o celebrante prostrado no chão. Em seguida, leituras bíblicas e a grande leitura da paixão e morte de Jesus. Após a homilia, reza-se a oração universal e, em seguida, acontece a veneração de uma imagem de Jesus crucificado. Por fim, a distribuição da comunhão. Esse clima de pesar se estende pelo sábado, sem cerimônias religiosas nas igrejas.

Vigília Pascal
Após a morte de Jesus, na sexta-feira, o sábado foi de grande pesar para os seus discípulos e discípulas. Ao amanhecer do domingo, eles encontraram o túmulo vazio e por 40 dias tiveram várias experiências de que o Mestre estava vivo. Ele ressuscitara conforme havia dito.
A ressurreição de Jesus é o fato mais importante para o Cristianismo, por isso tornou-se a mais importante celebração litúrgica. Desde os primórdios do Cristianismo, o Domingo de Pascoa é precedido de uma vigília. Nela, os fiéis reunidos com o clero e seu bispo, solenemente, com orações, leitura bíblicas e louvores, aguardavam a passagem do sábado para o novo amanhecer.
A igreja guardou essa tradição dando-lhe a estrutura atual. Na noite de sábado, a comunidade se reúne na entrada da igreja, que permanece às escuras, para benzer o fogo novo. Com esse fogo, acendem-se o Círio Pascal e as velas dos fiéis que, em procissão, entram na igreja a proclamar Luz de Cristo! Graças a Deus! As luzes são acesas, o Círio, figura de Cristo ressuscitado, é incensado e lhe é feito um cântico muito antigo. A igreja é ornamentada, a cor litúrgica é branca e dourada, cantam-se o Aleluia e o Glória e muito incenso. Ocorre uma longa leitura de textos bíblicos, que culmina com a narrativa da ressurreição. Abençoa-se a água que é aspergida sobre o povo, lembrando o Batismo (pode ocorrer, nesse momento, algum batismo).
Segue-se a celebração da Missa solene e começa mais um ciclo pascal, em que os cristãos proclamam: Jesus ressuscitou, aleluia, aleluia!
