Por Doris Pinheiro
O Dia Mundial do Meio Ambiente é um bom momento para parar e refletir sobre o que estamos fazendo com o planeta. E não é só ficar culpando governos e empresas, a gente, no dia a dia, está agindo de que forma? Vamos pensar a respeito? Pois é, esta data serve como alerta ao mundo todo e o sinal está vermelho viu humanidade! O Dia do Meio Ambiente foi escolhido, porque no dia 5 de junho de 1972 foi realizada a Conferência de Estocolmo. Essa foi a primeira conferência das Nações Unidas sobre o ambiente humano. Nós conversamos com Antônio Lobo, geógrafo, professor do Instituto de Geociências da UFBA e coordenador de Meio Ambiente da SUMAI – Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura da UFBA sobre os problemas ambientais provocados pelo ser humano no planeta e sobre o futuro…
Doris Pinheiro – Quais os principais problemas ambientais do planeta neste momento, provocados pelo ser humano?
Antônio Lobo – Eu diria que o principal problema ambiental do planeta hoje é o aquecimento global. Porque o aquecimento acelerado do planeta, e esse aquecimento está se dando de forma acelerada por conta da ação antrópica, da ação humana, está gerando as mudanças climáticas. E essas mudanças climáticas, elas estão trazendo uma série de perturbações para a humanidade como um todo, principalmente para a população mais vulnerável, aquela população mais pobre, mais exposta, e que habita áreas mais inseguras do planeta. Então, eu, na minha opinião, o principal problema ambiental hoje do planeta é o aquecimento global, e esse problema ambiental é gerado pela ação humana, pela ação antrópica, que usa intensamente combustíveis fósseis, liberando gases poluentes, que retêm o calor, e fazem com que o planeta vá ficando mais quente de forma mais acelerada.
DP – O quanto estamos dilapidando o planeta? O quanto já dilapidamos?
AL – Infelizmente a gente vive num modelo de organização econômica, de consumo e de trocas, que é um modelo capitalista. E o modelo capitalista é um modo de produção que tem na sua essência o acúmulo, a produção, consequentemente o acúmulo da riqueza gerada com esta produção, e o consumo, o consumo constante, ininterrupto. O processo constante de ampliação do consumo é muito importante no âmbito desse sistema capitalista. E tudo que é produzido, e que entra nesse circuito do consumo, é produzido a partir de recursos naturais. Então, há um processo bastante amplo, bastante gigantesco de dilapidação dos recursos naturais do planeta para manter o sistema capitalista, para manter os padrões atuais de acumulação de riqueza e para manter a dinâmica atual de consumo das mercadorias produzidas. Então, infelizmente, os nossos principais recursos naturais – a água, os minérios, a queima dos combustíveis fósseis – estão sendo utilizados em larga escala para atender esse modo de produção vigente, para atender essa nossa forma urbana de viver e consumista de se organizar. E isso, infelizmente, vem contribuindo para o processo de dilapidação dos recursos naturais do planeta de forma muito intensa.
DP – Há forças globais, comprometimento por parte de instituições e do governo, por parte de empresas, mas será que isso tem sido suficiente para barrar o poder destrutivo que consome o planeta e que vem destes mesmos atores e da própria população?
AL – Há forças globais comprometidas com a redução do ritmo de aquecimento global, com a transição energética, para que a gente deixe de consumir combustíveis fósseis e passe a consumir outras fontes energéticas que sejam sustentáveis e que sejam menos poluentes. Há forças globais no âmbito da política, que se reúnem para tentar celebrar acordos em escala internacional, como por exemplo o tratado de Kyoto, como por exemplo o tratado de Paris, que foi constituído recentemente. Há uma série de ONGs, de organizações da sociedade civil, que têm se mobilizado bastante em prol da proteção do meio ambiente, da conservação dos recursos naturais do planeta, então eu diria que há sim forças globais atuando nesse processo nas mais diversas escalas.
Mas por outro lado, há poderosas forças globais, há poderosos agentes hegemônicos que atuam na direção contrária, que atuam no sentido de boicotar, de desconfigurar qualquer tipo de ação que vá na direção da proteção do meio ambiente, que vá na direção da conservação do planeta, porque isso atrapalha interesses econômicos extremamente poderosos, que estão controlados por grandes empresas globais, a exemplo das grandes petrolíferas que atuam no mundo, a exemplo das big techs que são grandes empresas que atuam na área da tecnologia e que lucram também com esse sistema vigente de consumo voraz dos recursos naturais do planeta.
Então eu diria que há forças em conflito com relação a esse processo. Mas infelizmente os poderes hegemônicos que constituem o modo de produção capitalista têm levado vantagem nesse processo, têm impedido que ações efetivas sejam tomadas na conservação do planeta e têm boicotado essas ações e têm inclusive financiado trabalhos científicos para negar as mudanças climáticas, para trazer uma perspectiva negacionista com relação às mudanças climáticas e sobre os impactos que isso tem causado no nosso planeta.
DP – O quanto é importante que cada um, cidadão do mundo, esteja onde ele estiver, entenda o papel tanto coletivo quanto individual na tomada de decisões cotidianas para barrar o processo de dilapidação ambiental?
AL – É muito importante que cada cidadão se mobilize no combate às mudanças climáticas, se mobilize no contexto da transição energética, no contexto da preservação dos nossos biomas, da conservação dos nossos recursos naturais, porque esse é o caminho. Se a gente não construir, não conseguir construir uma cidadania, um processo de educação cidadã, científica, que possa de fato conscientizar as pessoas, sensibilizar as pessoas sobre a importância da proteção ao meio ambiente, nós não teremos futuro. Nós vamos comer todas as sementes agora, como nós já estamos fazendo, e dificilmente teremos um futuro para o planeta e para a gente, para as próximas gerações. Então, essa conscientização, essa sensibilização, o que demanda um trabalho intenso de formação e de educação ambiental, é muito importante para que, de fato, a gente possa ter um futuro.
DP – Se não se mudar de forma de lidar com a natureza, com os recurso naturais, quais as projeções futuras?
AL – Se não mudarmos a forma de nos relacionarmos com a natureza, que tipo de futuro teremos? Na verdade, não teremos futuro, não é? Porque a tendência é que os desastres ambientais, as catástrofes ambientais, elas se proliferem cada vez mais, inclusive com o advento das mudanças climáticas, e as mudanças climáticas, elas podem se agravar a tal ponto que venham a tornar inviável a permanência da vida no planeta, principalmente da vida humana, mesmo com todo o aporte tecnológico, com todo o conhecimento que a espécie humana possui hoje. Então, cuidar dos nossos recursos naturais, preservar e manter os nossos biomas, fazer uma transição energética rápida que nos permita parar definitivamente de usar os combustíveis fósseis, trabalhar a formação, a educação, para que o ser humano entenda que ele precisa ser um cidadão e não um consumidor, é fundamental para que tenhamos um futuro ambiental decente, zeloso, seguro, para que a raça humana possa permanecer de forma harmônica no planeta.


