Por Renata Rocha
A luta contra a máquina pública para honrar o legado de obras e todo um pensar sobre a exploração desenfreada da natureza incrustado em nossas mentes e corações pelo polonês mais brasileiro que já existiu continuará até que todos os recursos sejam esgotados! Recentemente, conseguimos mais uma vitória, com a determinação feita pelo Ministério Público de Contas da Bahia de que a gestão estadual assuma a conclusão das obras do equipamento artístico no extremo sul baiano.
Mais de 15 anos se passaram desde a doação feita por Frans Krajcberg ao Governo da Bahia. Além de propriedades, o artista doou todo o acervo artístico com mais de 48 mil obras sob o – até o momento falso – pretexto da criação do Museu Artístico e Ecológico, no Sítio Natura, em Nova Viçosa.
Como de hábito, ao invés de propor soluções rápidas e eficazes para cumprir o que foi acordado ainda em 2009, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) tenta desqualificar minhas denúncias, apontando-as como “acusações infundadas”, o que se trata de uma nova tentativa de enganar a população baiana, enquanto ataca a denunciante. A declaração foi dada à Revista Piauí, ao apontar que as decisões dos órgãos envolvidos foram motivados por “denúncias falsas promovidas por terceiros, que têm tentado assumir para si a gestão dos bens que foram doados pelo artista ao estado da Bahia”.
As denúncias levadas às autoridades competentes gozam de plena fundamentação e comprovação documental, inclusive com registro em vídeo de Frans Krajcberg dando declarações já em estado debilitado sobre a decepção com a promessa não cumprida do governo estadual que, além de não viabilizar a construção do equipamento cultural, ainda foi incapaz de salvaguardar o acervo do artista.
A negligência do Governo do Estado da Bahia em relação à obra de Krajcberg é um lamento, especialmente considerando o interesse de outros estados e países em preservar o patrimônio doado, mais uma prova do legado inestimável de Frans.
Com o apoio de poucos, mas leais, amigos, e respaldada pela luz da verdade, seguirei enfrentando a máquina pública e quantas pessoas sem escrúpulos aparecerem pelo caminho para preservar o legado de Krajcberg como uma cidadã comprometida com a causa. Essa luta não é só minha. É de todos que admiram e valorizam a importância do patrimônio inestimável deixado por Frans.
Atualmente, há um processo de união estável para reconhecimento da minha relação com Frans em andamento, mas é importante esclarecer que não se trata de interesse patrimonial, pois não sou herdeira de nada material. Se minha história com Krajcberg me confere direitos, lutarei por eles com legitimidade para continuar defendendo esse legado. Uma união afetiva não deve ser moldada por normas ultrapassadas de sexismo e machismo. Minha luta, acima de tudo, é para que o Estado cumpra as disposições testamentárias.
Krajcberg dizia que ao conhecer o Brasil nasceu uma segunda vez. Da mesma forma, aconteceu comigo, ao conhecê-lo, tornei-me uma pessoa diferente, aprendi a lutar por causas que acredito. Essa é a força que impulsiona minha dedicação para preservar seu legado.