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Quero mocotó! Mas o mocotó indicado por Matheus Carvalho

  • Banquete, Secundário 2, Sub-Editoria Banquete
  • 2024-01-24
  • Sem comentários
  • 4 minutos de leitura

Por Matheus Carvalho

Em Salvador, o melhor acompanhamento para uma boa comida de rua é o papo com aquele que faz e serve o prato. As histórias temperadas com muito bom humor costumam misturar coragem, persistência e criatividade num caldeirão de legítima baianidade. Ouvir os relatos durante a refeição torna ainda mais agradável a experiência que já seria extraordinária sem essa guarnição especial. 

Eu me considero um gourmet quando o assunto é comida servida em calçadas ou preparadas em pequenas barracas, sobretudo se o alimento se enquadra na categoria que aqui na nossa cidade é chamada de “comida pesada”. Sou um pesquisador, um aficionado, um entusiasta, um fã, um desbravador nessa área científico-cultural composta por grandes panelas de mocotó, fato, rabada, sarapatel, dobradinha, feijoada ou maniçoba, desenvolvidas pelos mais dedicados artistas da gastronomia popular soteropolitana. 

Sozinho e sem qualquer obrigação profissional atrelada a isso, eu já vivo formulando rankings, elegendo as melhores iguarias, dando notas aos pratos, mapeando locais e escrevendo sobre as experiências. Minha missão mais recente foi também uma das mais prazerosas. Em busca do mocotó perfeito (um dos meus alimentos preferidos), recebi a informação de uma fonte confiável a respeito de uma senhora que produz a sua obra de arte em uma banquinha situada no Acupe de Brotas. É um mocotó concorrido. Servido apenas aos sábados, normalmente entre 9h30 e 12h. Dificilmente sobra algo depois do meio-dia. 

A autora do mocotó se chama Maria Celidalva dos Santos de Jesus. Alguns poucos, mais próximos, a chamam de Célia, mas praticamente todos os amigos, parentes e clientes a conhecem como “Mamãe”. “Quase ninguém sabe o meu nome”, diz aos risos. 

O “Cantinho da Mamãe” fica em frente à entrada da chácara que virou um polo gastronômico de Brotas, composto por três restaurantes bem famosos (um serve carnes especiais preparadas na brasa, outro é especialista em comida japonesa e o terceiro é dedicado à culinária portuguesa). Respeito máximo aos três, mas a vizinha menos badalada é quem mais se destaca.

Minha primeira vez no “Cantinho da Mamãe” foi no final do ano passado. Cheguei bem cedo, às 9h20, e o cheiro inebriante já antecipava a maravilha que estava por vir. Pedi um prato caprichado pra comer ali mesmo, em uma das três mesinhas montadas na rua. Por ser o primeiro cliente do dia, fui convocado a participar do ritual que Célia repete há dez anos, desde que abandonou o trabalho como empregada doméstica e se tornou dona do seu próprio negócio. O ritual consiste em convocar o primeiro cliente a participar da oração de agradecimento que ela faz tanto aos sábados quantos aos domingos, quando o mocotó dá lugar à também disputadíssima feijoada. De mãos dadas com ela, ouvi a prece com atenção e me surpreendi com o texto que harmonizava dois ingredientes que dificilmente vemos juntos em Salvador: o discurso evangélico e a relação forte com o candomblé. 

O “Cantinho da Mamãe” tem lugar para Jesus Cristo e Iansã, ambos convivem muito bem nesse ambiente de sincretismo religioso fundido com gastronomia e, certamente, contribuem para que Célia execute com perfeição o seu milagre semanal. Com a guia de Iansã amarrada no braço esquerdo, a cozinheira mexe o pirão que é sempre feito na hora. É um dos muitos diferenciais do trabalho dela. Pirão viçoso, novinho, nunca requentado. Os acompanhamentos, excelentes, não roubam a cena e são de ótima qualidade. Bacon caseiro, carne do sertão, linguiça calabresa e fumeiro. O tempero é simples e sem excessos. Coentro, cebola, sal, alho e pimenta do reino. Tudo feito de forma a fazer o personagem principal brilhar de maneira imponente. O mocotó fresquinho, de alta qualidade, preparado lentamente, fogo baixíssimo, com paciência, carinho e sabedoria. Desprende-se dos ossos com facilidade, é macio, transparente, delicioso e muito bem servido. É uma experiência inigualável, mesmo quando repetida. Cada garfada é uma bênção. Sabor, aroma, consistência, temperatura. Serão sempre os 25 reais mais bem investidos da minha semana. 

Tão bom quanto o excepcional mocotó com pirão do Acupe de Brotas, é a companhia de Célia. Uma simpática cozinheira de pele escura, olhos claros e rosto arredondado. Ela tem 60 anos, mas parece uns dez anos mais jovem. Com personalidade forte e jeito firme, ela conduz o negócio ao lado do homem com quem está casada há 40 anos. Seu Elisiário é o calado e discreto escudeiro, além de braço direito de Célia. E ela não disfarça o fato de ser a líder em casa e nos negócios. “É por isso que a gente se dá bem. Eu sou assim, braba, e ele é bem tranquilo”.

O talento culinário aliado ao espírito empreendedor desenvolvido tardiamente contribuíram para a expressiva ascensão social da cozinheira, que resume o crescimento em uma frase que já virou bordão. “Eu bebia Glacial e agora só tomo Heineken”, diverte-se. 

Mãe de dois filhos, é também lutadora de boxe e muay thai, atividades que ajudam a preservar o físico invejável, mas também a protegem de situações aflitivas para mulheres que conduzem negócios como o dela. “Outro dia fui desrespeitada por um homem grosseiro aqui na frente da barraca e tive que usar a força para me impor”, conta sem entrar em detalhes, embora outros comerciantes do bairro tenham me dito que o tal homem inconveniente  “recebeu a surra que mereceu”. 

Eu só conheço esse lado mais “selvagem” de Célia por meio das histórias que ouço, porque estou sempre em contato com uma mulher gentil e que trata os clientes com muita ternura. Carinho de mãe que justifica o nome da barraca. Por causa dela e do irretocável prato que serve, vivo contando os dias. Torcendo pela chegada do sábado, quando irei abrir os trabalhos, compartilhar a oração e saborear o melhor mocotó da cidade. 

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