Iniciativa integra projeto 16 Ensaios Baianos e reúne imagens de Amanda Tropicana
Em sua terceira edição, o projeto 16 Ensaios Baianos, promovido pela Fundação Pierre Verger, traz desta vez uma parceria com a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 para mostrar, a partir do próximo dia 31, o cotidiano das comunidades quilombolas de Lagoa do Mato, Vereda dos Cais e Sapé, localizadas em Caetité, no Sudoeste Baiano, distante 640 km de Salvador. Em Sapé, também foi feito o registro do encontro de 14 comunidades quilombolas da região.
Denominada Raízes, a exposição mostra o trabalho da fotógrafa Amanda Tropicana. Nas duas primeiras edições, 16 Ensaios Baianos apresentou os trabalhos Vaqueirama, de Ricardo Prado, com Vaqueiros do Sertão da Bahia; e Herança do Pai, de João Machado, retratando romeiros de Bom Jesus da Lapa. Desta vez, o foco é para as lideranças femininas quilombolas.
As fotografias do ensaio Raízes foram realizadas como primeira etapa de um projeto da Cáritas para dar visibilidade à luta e às necessidades das comunidades tradicionais. A renda das fotografias vendidas na exposição, que pelo projeto pertence ao fotógrafo, com um percentual para a Fundação Pierre Verger, será totalmente destinada às comunidades fotografadas. Os quilombos também receberão pouco mais de uma centena de exemplares do catálogo da exposição, editado pela Fundação.
“A fotografia tem o poder de guardar memórias e de possibilitar retornos para além do afetivo e das imagens capturadas. A comunidade me recebeu de uma forma maravilhosa e doou para mim seu tempo e atenção para a realização do trabalho e por isso acredito que seja muito justo que eu possa de alguma maneira contribuir para além dos registros que retornarão à comunidade”, disse Amanda.
Segundo o representante da Fundação Pierre Verger e um dos coordenadores do projeto, Alex Baradel, a ideia de produzir os 16 Ensaios Baianos além de destacar fotógrafos já conhecidos na Bahia e outros emergentes, é apresentar ensaios fotográficos de diversas naturezas. “E o trabalho de Amanda, além da sua qualidade técnica e força documental, traz esse testemunho sobre estas comunidades quilombolas destacando a fotografia não apenas como um documento, mas como um meio de afirmação social e política, considerando que esse projeto foi realizado por iniciativa de uma instituição como a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, que apoia comunidades em situação de vulnerabilidade”, afirma.
O projeto 16 Ensaios Baianos tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria da Cultura da Bahia.
A fotógrafa
Filha de baianos, Amanda, 33, é carioca de Brás de Pina, subúrbio do Rio de Janeiro, mas ainda na infância veio morar em Salvador, onde vive até hoje. Teve o gosto pela fotografia despertado pelos pais, que deixaram como legado a importância do registro fotográfico para a história da vida das pessoas. Marinheiro, seu pai trazia álbuns de viagens internacionais que impressionavam a menina.
Amanda fez sua primeira fotografia fora do ambiente familiar em 2005, quando capturou uma imagem de contraluz de uma pessoa na Ladeira da Barra e se surpreendeu com o resultado. Começou como assistente de fotografia em uma empresa de eventos, mas logo passou também a se dedicar ao fotojornalismo e à fotografia documental.
Em 2023, Amanda foi a vencedora da categoria “Ancestralidade e Representação” no 9º Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2023), com um ensaio no Ilê Axé Obá Tadê Patiti Obá feito a partir de um desejo pessoal e religioso de contar a vida sagrada da comunidade religiosa que tem Xangô como orixá patrono do terreiro.
“Se o prêmio no ano passado me deixou feliz pelo que significou para minha carreira e pra minha vida pessoal, este trabalho com comunidades quilombolas se tornar uma exposição me realiza também por estar se tratando de histórias e pessoas que fazem parte do que temos como legado ancestral do nosso país”, revelou. Participar do projeto 16 Ensaios Baianos é, para Amanda, também uma satisfação pessoal por mais uma vez apresentar seu trabalho em Salvador, uma vez que parte da sua produção já foi vista em outros lugares.
Desde 2009, trabalha nas áreas de fotojornalismo e fotografia documental com ênfase na cultura baiana. Integra a coleção de fotojornalistas brasileiros do projeto “Testemunha Ocular” do Instituto Moreira Salles, recebeu o primeiro prêmio no VIII Salão de Fotografia da Marinha do Brasil (2015). Foi finalista na categoria Cor do 10º Concurso Leica-Fotografe. Participou de mais de 30 exposições, dentre elas: a internacional “The Fifth Annual Exposure Photography Award”, no Museu do Louvre, Paris; “Olhares Afro Contemporâneos”, em São Paulo e “Entreatros III: Fotografia”, no Museu de Arte Moderna da Bahia.
Serviço
O que: Exposição fotográfica Raízes
Quando: Abertura dia 31 de agosto, às 15h
Onde: Galeria Fundação Pierre Verger (Rua da Misericórdia, 9, Centro Histórico, Salvador-BA)
Quanto: gratuito