A esquizofrenia, um transtorno mental crônico e debilitante, acomete aproximadamente 1% da população global. Caracterizada por sintomas positivos, como delírios e alucinações, e sintomas negativos, como apatia e retração social, a esquizofrenia impõe um fardo significativo aos indivíduos, seus familiares e à sociedade.
“O tratamento padrão da esquizofrenia baseia-se na administração de antipsicóticos os quais, apesar de demonstrarem eficácia na gestão dos sintomas, frequentemente acarretam efeitos colaterais adversos, tais como distúrbios motores, aumento de peso corporal e disfunção sexual”, afirma Maria Klien, psicóloga especialista em cannabis medicinal.
A busca por alternativas terapêuticas com melhor balanceamento entre eficácia e perfil de segurança tem impulsionado a investigação de novas abordagens para o tratamento da esquizofrenia. Nesse contexto, a cannabis medicinal tem emergido como um potencial coadjuvante no manejo dessa complexa condição.
Estudos pré-clínicos têm demonstrado uma correlação negativa entre os níveis de endocanabinoides, como a anandamida, e a gravidade dos sintomas psicóticos. O canabidiol (CBD), um dos principais canabinoides da Cannabis sativa, tem se mostrado promissor no tratamento da esquizofrenia.
“A administração de CBD atua como um coadjuvante no tratamento, devido à sua ação antipsicótica intrínseca. O CBD não visa substituir a medicação em curso, mas sim atuar em sinergia, permitindo a otimização do tratamento por meio da redução gradual das doses dos fármacos, especialmente dos ansiolíticos. Essa estratégia visa alcançar um efeito potencializador, explorando as propriedades farmacológicas tanto do CBD quanto dos antipsicóticos, sem a suspensão abrupta da medicação”, elucida Maria Klien.
Um estudo clínico randomizado e controlado comparou a eficácia do CBD à da amisulprida, um antipsicótico atípico, no tratamento de 42 pacientes diagnosticados com esquizofrenia. Ambos os tratamentos demonstraram uma melhora clínica significativa nos sintomas positivos e negativos, conforme avaliado pela Escala de Avaliação de Sintomas Positivos e Negativos (PANSS).
Contudo, apenas o CBD promoveu um aumento significativo nos níveis de anandamida, sugerindo um mecanismo de ação distinto do antagonismo dopaminérgico, o principal mecanismo de ação dos antipsicóticos tradicionais.
“Essa descoberta abre um leque de novas possibilidades para o tratamento da esquizofrenia, abrindo caminho para uma abordagem terapêutica mais personalizada e com menor risco de efeitos adversos”, destaca Maria Klien.
Adicionalmente, o CBD exibiu um perfil de efeitos colaterais mais favorável em comparação com a amisulprida. Os antipsicóticos tradicionais estão associados a efeitos colaterais frequentes, como sintomas extrapiramidais, aumento de peso corporal e disfunção sexual, decorrentes, por exemplo, do aumento da prolactina.
“É de suma importância que os pacientes tenham acesso a tratamentos seguros e eficazes, que promovam a melhoria da qualidade de vida e possibilitem uma reinserção social plena”, enfatiza Maria Klien.
O uso de CBD como coadjuvante no tratamento da esquizofrenia pode oferecer uma alternativa terapêutica com menor risco de efeitos adversos, contribuindo para a adesão ao tratamento e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
É crucial salientar que a cannabis medicinal não deve ser encarada como uma panaceia para a esquizofrenia. O tratamento dessa condição requer uma abordagem multidisciplinar, que englobe psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico e, em determinados casos, farmacoterapia.

Sobre Maria Klien
É psicóloga, especialista e empresária no campo da cannabis medicinal, formada em terapia assistida. Especializada em transtornos de ansiedade e medo. Como empresária, trabalha para tornar a planta uma ferramenta acessível e eficaz para o bem-estar emocional.